1894 - William Wetmore Story (escultor)

Marilice Costi, 2022 – Direito Autoral de Publicação

Encontrarei a correta palavra?


O alimento não sacia mais a fome

as mãos inúteis estão frias

os pés sem mais caminhos

o horário anterior, a memória parada


Os braços curtos para o abraço

O colo pequeno para corpos negros

O olhar borrado em um ponto da rua

nos ouvidos, lacre de fumaça


Não há significado em imagens guardadas, selfs inúteis.

A insegurança vívida

a irresponsabilidade de muitos

a incompetência, o desumano

na gaúcha cidade, Santa Maria


Para sempre o desejo de mudar a história

a nova versão é sem volta

para sempre o desejo de justiça

de mudar tanto e tudo


Há lixo sob tapetes

onde decidem vidas


No desejo eterno da aceitação de fatos,

quando a ressurreição dos jovens?


Onde as palavras do verso certo, do poema perfeito?

Somem nas montanhas, no fluir dos gases e das águas

ao cobrir tantas faces, tantos braços


Para nunca mais as mães a procurarem filhos em esquinas

para sempre um pai buscando filhos ao sair de festas

para sempre irmãos a lembrar de travessuras

para sempre o desejo de ter sido superpai


Para sempre a dor da falta de poder divino

para sempre o inaceitável, a busca do perdão sem culpa

para sempre a voz presa de saudade

de vozes jovens soltas no ar, tantos nomes


Para sempre o desejo de acalantar.

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corações
Marilice Costi é escritora, poeta, contista. Especialista em Arteterapia e Capacitada em Neuropsicologia da Arte, é graduada em Arquitetura e mestre em Arquitetura pela UFRGS. Publicações: livros e artigos. Foi editora da revista O Cuidador.
 
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Respostas de 12

  1. Esse teatro e poema da @marilicecosti, representado pela Equipe Azurelo, vêm de encontro ao anseio e à dor de muitas famílias da cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, quando houve um incêndio na Boate Kiss. O propósito desses alunos foi alertar e prevenir futuros desastres e acidentes em ambientes fechados, como também deixar o recado quanto ao uso de fogos de artifícios e shows pirotécnicos em ambientes fechados.
    O horror que esses jovens e familiares passaram remete à série “Todo dia a mesma Noite”. Foram 242 vidas perdidas prematuramente e centenas de pessoas com sequelas físicas e psicológicas. São pais e mães que clamam por justiça.
    Fica o alerta para os ambientes sem extintores, os locais sem saídas de emergência, os revestimentos de paredes podendo ser inflamáveis, os shows pirotécnicos que podem resultar em mortes prematuras de inocentes.

    Azurelo, vocês passaram o Recado.
    E o mais importante…, professores e alunos se dedicaram e se aproximaram numa ajuda e amizade.
    A caminhada foi linda!
    Parabéns!!

  2. Querida Marilice,

    Parabéns pelo lindo e dolorido poema da Boate Kiss.
    A tua voz de poeta ergueu o clamor das vidas perdidas e da dor dos que ainda choram de saudade…

    Forte abraço!

  3. Quem já passou experiencias dolorosas com filhos, sabe do que estas falando.
    E quem não passou?
    Viver é aventurar-se por caminhos de incógnitas.

  4. Tantos sentimentos traduzidos em palavras! É preciso muito talento e, principalmente, empatia para expressar assim a dor e o vazio das perdas das famílias, dos amigos, da cidade. A dores que devemos esquecer. Mas o que aconteceu em Santa Maria deve ser lembrado, para não acontecer de novo e acolhermos quem sofre.

  5. Marilice traduz poeticamente a dor que ainda inflama os corações não só de familiares das vítmas da Boate Kiss, mas também de todos que ainda sentem o impacto daquela trajédia.
    O acalanto interrompido, a dor de uma saudade incalacrada para sempre em corações sensíveis.
    Emocionante.

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