1. O cenário atual da educação
A prática docente tem se tornado cada vez mais desafiadora. O cenário nacional nos estarrece: alunos demonstram impulsividade, resistência a limites, desrespeito à hierarquia, dificuldade de escuta, exigência elevada e comportamentos agressivos.
Muitos não se responsabilizam por suas atitudes, mostram desmotivação e buscam recompensas imediatas, sem compreender o valor do aprendizado, do esforço pessoal e do diálogo respeitoso.
Ensinar é, muitas vezes, plantar em solo árido — e, ainda assim, acreditar na colheita.
2. A omissão familiar e seus impactos
Quando os pais se omitem na educação dos filhos e delegam essa função à escola, dificultam profundamente o trabalho dos professores. Essa postura costuma vir acompanhada de:
- Proteção excessiva
- Justificativas constantes para condutas inadequadas
- Falta de diálogo com os educadores
Diante disso, os professores se veem emocionalmente sobrecarregados, tentando manter uma prática pedagógica ética, flexível e formativa. Apesar das dificuldades, muitos permanecem firmes em sua missão de formar sujeitos críticos.
3. A docência exige alma
Alunos chegam à sala de aula carregando inquietações que vão além do conteúdo escolar. Desmotivados, encaram o aprendizado como obrigação sem propósito, desejam resultados rápidos e ignoram o valor do esforço e da frustração como parte do processo.
A antiga parceria entre lar e escola se fragilizou. A ideia equivocada de que educar é tarefa exclusiva do professor esgota os docentes, que acabam responsabilizados por conflitos e lacunas que não criaram.
Mesmo diante da sobrecarga emocional, os professores persistem. Apostam em seus alunos.
4. O vínculo que transforma
No início do semestre, minha primeira aula tem como objetivo:
- Estabelecer vínculo afetivo com a turma
- Apresentar o programa da disciplina
- Explicar avaliações e expectativas
- Observar a turma e compreender o perfil da classe
Alunos costumam pensar que a primeira aula não importa. Para mim, ela é essencial.
5. Quando o aluno desafia
Relato o episódio com Jorge, aluno universitário:
- Chegava atrasado, faltava às aulas, irritava-se com facilidade
- Recebeu nota 4,5 e, bravo, amassou a prova e a arremessou em minha direção
- Guardei a bolinha de papel na bolsa e continuei a aula sem demonstrar surpresa
6. Reflexão e estratégia
Como lidar com a agressividade de um aluno?
- Levar à direção?
- Comentar com colegas?
- Retrucar?
Preferi o silêncio e o tempo. Sem envolver a coordenação, fui me aproximando de Jorge, observando, estimulando, valorizando seus avanços. Ele passou a participar mais, melhorar suas notas e sorrir com o próprio progresso.
A bolinha permaneceu na minha bolsa até o fim do semestre — símbolo da espera por uma solução.
No último dia de aula, Jorge foi aprovado. Ao entregar sua prova, cruzamos olhares e sorrimos.
— Parabéns, foste aprovado — disse-lhe.
E dirigi-me à bolsa, peguei a bolinha e, diante da turma olhei para o aluno:
— Jorge, isto te pertence. Não faça isso com mais ninguém. Estou aqui para ensinar e desejo que te tornes um excelente arquiteto.
Alunos aprendem pelo exemplo. Resolver conflitos sem gerar novos é profundamente transformador. Sou grata ao Jorge — ele me ajudou a me reconhecer e a crescer.
8. Alunos reativos e o papel da família
A agressividade nas escolas é um problema grave e recorrente nas mídias. As causas são múltiplas:
- Questões socioeconômicas
- Abandono familiar
- Baixa autoestima
- Impulsividade
- Transtornos emocionais
A omissão dos pais é um fator marcante. O professor não pode substituir o papel da família. O respeito se aprende em casa.
Cabe ao professor:
- Instrumentalizar os alunos para os desafios futuros
Cabe aos pais:
- Apoiar a escola
- Exigir empenho dos filhos
- Acompanhar tarefas escolares
- Dialogar com os professores
A construção de um cidadão depende da participação ativa da família.
9. Os papéis de cada um
Um professor não deve ceder à pressão para aprovar alunos sem preparo. Repetir o ano pode ser aprendizado. Ser aprovado sem condições de acompanhar os conteúdos prejudica o aluno.
Exigir que o professor acomode notas ou ignore comportamentos inadequados é um pedido indecente.
Pais devem:
- Estabelecer limites
- Ensinar sobre direitos e deveres
- Dar exemplo
Respeito vem de berço. Educação começa em casa. Se os pais não valorizam o ensino, os filhos não valorizarão o próprio aprendizado.
______________________________________________________
Apoie e compartilhe o nosso trabalho. Deixe seu comentário.


















