Entrevista feita por Shirley M. Cavalcante (SMC)
MARILICE COSTI escreve e pinta desde menina, ensina com alegria, gosta de pesquisar, inventar e aprender. É arquiteta e urbanista, mestre em Arquitetura, especialista em Arteterapia, capacitada em Neuropsicologia da Arte. Oficineira, palestrante, Em suas oficinas trata do desbloqueio da escrita e da escrita criativa, ou do cuidado através da Arteterapia.
Artista plástica, ela criou as capas de todas as edições da revista O Cuidador, atualmente online.
Autora de diversos livros e artigos, é também editora e faz projetos gráficos.
Ministra também cursos e workshops, e dá palestras.
Entrevista
SMC – Escritora Marilice Costi, é um prazer contarmos com a sua participação no projeto Divulga Escritor, conte-nos como surgiu seu gosto por trabalhos literários?
Marilice Costi – Escrevo desde menina. Iniciei com poesias. Estimulada com diários por excelentes professores de Português e Literatura. Li muito. Durante a Faculdade de Arquitetura, um professor me estimulou a enviar um de meus textos para um Concurso de Contos e tirei o primeiro lugar. Daí em diante foi continuar, fiz oficinas de escrita criativa… e segui.
SMC – Fale-nos sobre o seu romance “Gatilho nas palavras”? Como foi a escolha do Título? Em que perfil você se inspira para a construção dos personagens desta obra?
Marilice Costi – A escolha foi natural. Duas pessoas na internet tentando se comunicar e amar. Ela mais que ele. A dificuldade demonstrou que havia uma patologia, algo que é difícil de perceber à distância. Meu livro pode auxiliar as pessoas a compreender comportamentos, pois seduzir e afastar são sintomas típicos em transtornos mentais. No caso do livro, aprendi que esses homens dificilmente se entregam para uma relação amorosa. Na internet também existem relacionamentos complicados. Além disso, ao ler ou escrever, projeta-se sentimentos e sensações na escrita. Ele é uma pessoa que acredita em Darwin, argumenta tudo, deseja a poligamia. A mulher do livro também se enrola, quer que o amor dê certo., mas quando as palavras se tornam gatilhos acionados, é preciso ter cuidado. Pessoalmente, os gestos e o tom de voz ampliam a percepção do outro. Palavras podem “matar” um amor, podem conter trinitroglicerina. Por isso, cuidado com elas!
SMC – Marilice, conte-nos sobre o seu livro “Como controlar os lobos? proteção para nossos filhos com problemas mentais”, que tema você aborda?
Marilice Costi – O tema é a família que segue ao redor de um filho com deficiência mental/intelectual. Relata de modo literário como é difícil cuidar e como a família está desamparada. Questiona o sistema de saúde público e o sistema privado, o cuidado inadequado aos familiares e a vulnerabilidade dessas pessoas deficientes, quando utilizadas também para tráfico de drogas. Estou escrevendo a continuação desse livro e outro para cuidar de mães, as que são mais abandonadas (pelos maridos, pelos filhos, pelos amigos… pelos vizinhos, pela sociedade). Escrevi o livro como num jato, em três horas, após trocar o voo do meu avião numa viagem que fiz ao Rio de Janeiro.
SMC – De forma geral que mensagem você quer transmitir através de seus textos literários?
Marilice Costi – A humanidade está presente em todos os meus livros. Procuro escrever com o coração e sou sempre motivada por situações que me tocaram, sejam as minhas, como é o caso do livro Como controlar os lobos? , ou de outras pessoas com os demais livros – o de contos e o romance. A vida é complexa e as relações afetivas são importantes em qualquer momento, sejam elas de amor, de amizade ou de sofrimento. A vida é composta das duas, por isso sempre saio de um momento depressivo para o outro, a alegria, como é o caso de “Mulher Ponto Inicial” e “Ressurgimento”, com o qual ganhei o Prêmio Açorianos de Literatura em 2006 – livro de poesia. Em apenas dois dias, criei os poemas que o compõe. Poemas que foram surgindo devido à necessidade que era minha. Tratei da dor da perda e do renascer, das trevas e da aurora num fluxo único. Tem a ver com a história de minha calopsita, que morreu cheia de feridas, minha companheira de mesa de trabalho durante muitos meses enquanto cursei o mestrado.
SMC – Onde podemos comprar os seus livros?
Marilice Costi – Podem ser encontrados no site www.marilicecosti.com.br , assim como oficinas e outros textos no Blog. O leitor sempre poderá deixar sua opinião e ler a opinião de outros leitores.
SMC – Quais os seus principais objetivos como escritora?
Marilice Costi – Escrever é vital para mim, um ato necessário e trabalho muito para deixar um livro pronto. Não estou preocupada com o mercado, estou preocupada em registrar minha aldeia, em escrever com qualidade. Gatilho nas palavras exigiu dois anos de muita leitura e releitura. Hoje não alteraria uma vírgula.
Tempos Frágeis, contos, traz histórias desde a década de 70. São temas sensíveis à vida humana, escritos em momentos diferentes, com suspense ou tensão, o fundamental nos contos. São dores humanas que me sensibilizaram profundamente e é compreendendo os sentimentos que aprendermos sobre os temas universais.
SMC – Você ministra cursos, oficinas e palestras. Que temas você aborda em seu trabalho?
Marilice Costi – Abordo diversos temas através do estímulo criativo. Considero a criatividade e a escrita coisas da alma e temos que ter delicadeza ao acolher quem se expressa com a escrita. Tanto o escritor, ao ensinar, como o aluno, que é quem começa, são pessoas especiais e singulares. Não dá para tratá-los igualmente, é preciso que se descubram entre suas diferenças. É o que considero riqueza humana. Já atendi muitas pessoas com Arteterapia, devido a bloqueios ocasionados em situações de aprendizagem em oficinas. Eu mesma sofri muito com algumas delas. Mas passei por cima e aprendi como não fazer. Considero a escrita algo que vem das profundezas da alma, tem a ver com nossa mãe, o início de nossa comunicação, a nossa linguagem lá no olhar e na voz. Respeito e cuidado com o texto do outro é fundamental! Além disso, a Literatura registra o espírito da sociedade. É preciso valorizar esse caminho permanentemente, é importante na vida das pessoas.
SMC – Quem desejar contratá-la como deve fazer?
Marilice Costi – Meus contatos estão em meu site.
SMC – Quais as melhorias que você citaria para o mercado literário no Brasil?
Marilice Costi – O mercado de livros é muito complexo e oscila muito. O leitor é bombardeado por grandes editoras e por muito livro que não possui importância literária. Perdeu muito da avaliação inicial feita por especialistas em editoras e o leitor pouco aposta em um novo escritor. Busca sempre nomes já reconhecidos. Existem projetos importantes como os que levam o autor em salas de aula (projeto Autor Presente – RS), que estimula a leitura e o contato com os autores. É preciso construir mais bibliotecas e aproximar cada vez mais os escritores dos leitores, os alunos. São ações fundamentais, que são de ação pública, de decisão política. O Governo em todas as instâncias faz um papel importante.
SMC – Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista, agradecemos sua participação no projeto Divulga Escritor, muito bom conhecer melhor a escritora Marilice Costi. Que mensagem você deixa para nossos leitores?
Marilice Costi – Que escrevam sempre que puderem para registrarem sentimentos e percepções. Escrever clareia os pensamentos, desenvolve o raciocínio lógico, causa alívio. E leiam bons livros. Nossa saúde mental está muito dependente da leitura e da escrita. A humanidade tem a possibilidade: a de se reconhecer na literatura do outro.
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Encontre aqui o contato da escritora: www.marilicecosti.com.br
Gatilho nas palavras foi publicado em 2012, seu sétimo livro. Marilice continua atuando na área cultural e recebeu diversos prêmios, entre eles Prêmio Trajetórias Culturais, RS em 2021.



















