Recentemente, ao saber do fechamento da empresa que produzia metais e louças DECA no Rio Grande do Sul, um filme se passou em minha mente. A DECA, uma marca que fez parte de muitos projetos ao longo dos meus anos de profissão como arquiteta, decidiu encerrar suas atividades. Essa decisão trouxe à tona memórias de mais de 20 anos atrás, quando passei pela história falimentar do frigorífico Z.D.Costi.
A diferença maior é que, com os dados e as comunicações mais rápidas do que no século passado, a DECA decidiu fechar sem aguardar uma falência. Chamo isso de competência administrativa. No entanto, a dor e o impacto na comunidade são inegáveis. Li muitas coisas nas redes sociais, de pessoas que não têm a mínima ideia do quanto a economia do Estado e do Município, os habitantes da região, o bairro, a comunidade, o corpo fabril de funcionários da empresa, os funcionários mais antigos, os fornecedores de décadas, os amigos, a família, e todos os descendentes sofrem.
Quem não perdoa uma falência é a sociedade, que rompe relacionamentos e atravessa a rua para não cumprimentar os outrora amigos “ricos”. Isso é desumano. Só quem passa por essa situação pode avaliar o que é perder também os “amigos”.
Após a primeira concordata, procurei a FIERGS – Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul –, de quem meu pai recebeu uma medalha em 1975: a medalha de Mérito Industrial do Rio Grande do Sul. Agendei em quinze dias uma reunião com a presidência, Renan Proença, que foi atencioso e designou o administrador para verificar as possibilidades da área, se haveria interessados em comprar o frigorífico naquela ocasião.
A história da DECA e do frigorífico Z.D.Costi se entrelaçam na minha memória, trazendo à tona sentimentos de afeto e empatia pelos trabalhadores e suas famílias. A DECA, assim como o frigorífico, fez parte da vida de muitas pessoas, e seu fechamento deixa um vazio difícil de preencher. É um lembrete de que, por trás de cada empresa, há histórias de vidas, sonhos e dedicação.
____________
Leia também: Percepção Urbana e Topofilia – Percepção de uma ex-operária



















Respostas de 19
Essa é uma história que daria um belo roteiro de um filme sobre a industrialização no RS.
O que me chamou a atenção foi de que já naquela época houve a DECISÃO correta de fixar os empregados junto
ao local de trabalho. Exatamente como hoje pensam vários URBANISTAS, entre eles Jess Gaspar e EdWart Glaeser, que ao pensarem as cidades do futuro, consideram como relevantes o transporte de pequeno curso, a tecnologia que é favorável a que isso
possa acontecer, e o meio-ambiente.
Enfim, um belo texto e muito atual.
Essa é uma história que daria um belo roteiro de um filme sobre a industrialização no RS.
O que me chamou a atenção foi de que já naquela época houve a DECISÃO correta de fixar os empregados junto
ao local de trabalho. Exatamente como hoje pensam vários URBANISTAS, entre eles Jess Gaspar e EdWart Glaeser, que ao pensarem as cidades do futuro, consideram como relevantes o transporte de pequeno curso, a tecnologia que é favorável a que isso
possa acontecer, e o meio-ambiente.
Enfim, um belo texto e muito atual.
Linda a história da fábrica, Marilice! Ao ler fiquei imaginando como era essa época, O cotidiano dessas pessoas, a importância do trabalho pra elas… Quantas vidas envolvidas! Teus textos são lindos!
Um belo texto. Retrata com cuidados uma época que não vivi, pois eu aguardava o fim da gravidez de minha mãe para vir ao mundo. Não possuo lembrança sentimental e é super difícil ler sobre a história de “fracasso” familiar. Graças a Deus, não fiz parte dessa geração. Lembro de sofrimentos e de rompimentos devido à falência. Por isso é tão difícil conversar sobre isso. Foi uma história linda, que dá continuidade a outras histórias. Quero olhar pra frente, começar de novo.
Um belo texto. Retrata com cuidados uma época que não vivi, pois eu aguardava o fim da gravidez de minha mãe para vir ao mundo. Não possuo lembrança sentimental e é super difícil ler sobre a história de “fracasso” familiar. Graças a Deus, não fiz parte dessa geração. Lembro de sofrimentos e de rompimentos devido à falência. Por isso é tão difícil conversar sobre isso. Foi uma história linda, que dá continuidade a outras histórias. Quero olhar pra frente, começar de novo.
Como sempre, a escrita leve e correta nos leva a passear pelo teu coração generoso e pelas tuas lembranças que, com teu talento, faz com que pareçam nossas.
Que linda história!
Chorei ao ler, Marilice! Lembrei das histórias do frigorífico Armour, do gazapina, do posto de combustíveis em que meu pai era contador em Livramento! Migrantes que sabem dos esforços familiares para nos darem melhores condições de vida!
História parecida com da minha família. Tínhamos uma fábrica de enlatados Almeida.
Cumprimentos. Belo trabalho, esse é o castigo desenhado a toda Empresa FAMILIAR. Convivi muito com o sr.seu pai e tive a honra de indicar na Câmara Municipal a cidadania à Sra.sua mãe dona ALICE, foi uma honra. Tive a mesma insatisfação ao ter que fechar a empresa que meu pai construiu. Isso se vive, não se consegue explicar a desolação, mesmo eu tendo um filho que segue os passos do avô. Cordial abraço.
Tua história reflete a minha até no espaço geográfico… só que do outro lado da avenida. Me fez reviver o tempo de angústia e sofrimento daquele que lutou até não aguentar mais, em prol do seu ideal e dos que o ajudavam a levar adiante o grande projeto. Meu pai, J.J.Holzbach da CIPLAME, era muito amigo do teu pai. Compartilhavam as agruras e os prazeres de quem se dispõe a empreender.Tinham o cérebro nos negócios e o coração nos seus colaboradores.
Parabéns pela bela narrativa.
gostei do que você também relembrou. Como sabes, eu fui amigo dos teus pais e acompanhei as duas histórias: a do
fechamento e a do Z.D.Costi…
Grata, Ivanio. Grande abraço.
Que história mais linda!!!!! Eu lembro do Pai da Marilice.Éramos colegas do Colégio Norte DaME e íamos de vez em quando na casa dela……nos ANIVERSÁRIOS!!!!!guardo lindas recordações daquele tempo
Abraços querida!!!!!
Belo e sensível relato. Congratulações, Marilice! Obrigado por compartilhar.
É uma história comovente, que eu já conhecia, sem as particularidades de que falas. E o modo como delas fala, compõe uma ilustração na mente de quem a lê, tal qual uma fotografia. Ou, quem sabe, uma imagem literária.
Por um lado, meus sentimentos; por outro, meus parabéns. Sei que entendes o que digo, também eu passei por experiência semelhante com meu pai. “Fundo do poço é uma barra”, popularmente falando; poço despencando em cima, ainda pior. Grande abraço, amiga.
Fiquei emocionada, Marilice.
Tua história reflete a minha até no espaço geográfico… só que do outro lado da avenida. Me fez reviver o tempo de angústia e sofrimento daquele que lutou até não aguentar mais, em prol do seu ideal e dos que o ajudavam a levar adiante o grande projeto. Meu pai, J.J.Holzbach da CIPLAME, era muito amigo do teu pai. Compartilhavam as agruras e os prazeres de quem se dispõe a empreender.Tinham o cérebro nos negócios e o coração nos seus colaboradores.
Parabéns pela bela narrativa.
É uma história . Não sei se triste ou só mais uma história. Mas é comovente e nos dá um retrato de nossa realidade. E você sem dúvida é herdeira legítima da coragem que deve ter tido teu pai.
Acabei de ler teu texto, excelente! Repleto de boas e significativas lembranças. Em algum momento, lembrei de minha Casa de Infância (meu livro). Parabéns pelo texto, Marilice! Sinto, desde o primeiro livro teu que me “apareceu” nas mãos, que temos algumas afinidades. Contente por, de alguma forma, fazer parte da tua vida. Linda noite! 🙏🏽😘❤