Li o livro de Cristina Oliveira rapidamente, surpreendida por seu texto fluido de uma vida que se moveu entre muitos acontecimentos políticos e sociais.

Pensei que a conhecia, pois escrevera para a revista O Cuidador – orgulho de ser. No entanto, sua história entre idas e vindas, questionamentos, filhos, família, amores, decisões apressadas e luta pela sobrevivência, transitam nos sintomas de transtorno do humor. Como só percebi a bipolaridade quando assumiu efetivamente um tratamento?

A bipolaridade exige que o paciente, em determinado momento, penetre profundamente para dentro de si e assuma o tratamento. Só assim obterá estabilidade e qualidade de vida. Este assumir-se nas próprias dificuldades é para quem tem coragem! Coragem de viver a vida com o melhor possível e mais saudável.

No decorrer do texto, pareceu lidar com suas dificuldades emocionais, assim como com a sua família. E nos envolvemos em uma mulher que parece uma heroína, talvez isso seja o seu fio condutor, que nos carrega imperceptivelmente.

SOU MAIS QUE A MINHA DOENÇA: SONHOS, DESAFIOS E SUPERAÇÃO

O livro de Cristina mergulha no tempo vivido por ela na década de 70. Relata os estudos no Colégio Notre Dame, a vida provinciana nas festas sociais, as caminhadas e passeios nas praças da cidade de Passo Fundo/RS. O Brasil enfrentava uma ditadura, o que ocorria em muitos países da América do Sul.

Cristina Oliveira se desvela ao relatar sua construção em um mundo onde a mulher ainda lutava por espaço. Ela transitou em diversos países carregando filhos, exigindo respeito político e ideológico e trabalho digno. Através de ações por um mundo melhor, a questão feminina estava na luta pelos direitos ao próprio corpo, à própria escolha, à própria posição política. Tempo de notícias doloridas, o qual Cristina enfrentou e tomou decisões alterando rotas com determinação e coragem.

Uma vida de realizações entre perdas importantes e dores, dúvidas e humanidade, que pode ter lhe parecido incompleta, mas com certeza não o foi. Viveu em amplitude envolta em sentimentos que embrulham o nosso estômago e nos comovem.

Seu projeto Estórias Diferentes e seus desdobramentos tem origem na sua infância. Seu pai lhe contava histórias, o que a acalmava. Quando a autora enviou seu texto para a revista O Cuidador, ed. 25, deu-se conta do quanto é importante o papel dos pais na leitura de histórias. É um tipo de cuidado amoroso que estimula o desenvolvimento infantil, distrai e desenvolve o imaginário.

Seu trabalho em escolas estimula a empatia, a capacidade de comunicação e a expressividade de crianças. Elas se sentem acolhidas com amorosidade, humanidade e força de ser. Um somatório de tudo que aprendeu com a própria história.

E isso não foi de graça. O resultado é o aprendizado que ela derrama nas páginas com sua maturidade textual e superação da doença.

Parabéns, Cristina! Bem-vinda à literatura com suas viagens reais e imaginárias!

Um belo projeto para escolas no país.

_________________

Marilice Costi é escritora, Especialista em Arteterapia e Mestre em Arquitetura.

Gostou? Compartilhe:

Marilice Costi é escritora, poeta, contista. Especialista em Arteterapia e Capacitada em Neuropsicologia da Arte, é graduada em Arquitetura e mestre em Arquitetura pela UFRGS. Publicações: livros e artigos. Foi editora da revista O Cuidador.
 
Nos COMENTÁRIOS abaixo, deixe sua opinião. Lembre-se de enviar a outros pais, professores e outros cuidadores. Agradeço.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Conteúdo Relacionado