SÍSIFO
montanha que se avoluma
à minha revelia
meu fardo
à minha revelia
meu fardo
carrego sementes
sem plantá-las
sem plantá-las
carrego música
mas todos estão surdos
mas todos estão surdos
carrego cores
e não há papel
e não há papel
carrego crias
que não vivem sem mel
sem um conto de reis
sem contos
e um monte de papéis
que não vivem sem mel
sem um conto de reis
sem contos
e um monte de papéis
sou rastros de longa estrada
de gastos coturnos
e permanentes pesadelos noturnos
de gastos coturnos
e permanentes pesadelos noturnos
é cobra e borboleta
é corte e costura
é fogo e terra
é corte e costura
é fogo e terra
outro Everest me chama!
quando serás colina?
quando serás colina?
carrego pedra e húmus
um mágico torto
o sacro perdido
e noites em claro
de perpétuo labor
entre detritos
o sino não toca
os galos não cantam
e a luz vomita
meu codinome
é retransformado mito
no dia-a-dia
corroídas entranhas
e olhos arregalados
Sísifo nunca dorme
e gasta sapatos
como eu.
Copyright@MariliceCosti
Marilice Costi recebeu o Prêmio Açorianos pelo livro de poesia Ressurgimento, 2006. Escritora, especialista em Arteterapia e Capacitada em Neuropsicologia da Arte. Graduada em Arquitetura, mestre pela UFRGS. Livros e artigos publicados.
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