Pintura de Tiziano, o mito de Sísifo, que é que carrega a pedra até o cume, como castigo.

Marilice Costi

montanha que se avoluma
a minha revelia
meu fardo

carrego sementes
sem plantá-las

carrego música
mas todos estão surdos

carrego tintas
não há papel

carrego crias
que não vivem sem mel
sem um conto de reis
sem contos
e um monte de papéis

sou rastros em longa estrada
uso gastos coturnos
em permanentes pesadelos noturnos

entre a cobra e a borboleta
há cortes e costuras
fogo e terra

outro Everest me chama!
- Quando serás colina?

carrego pedras e húmus
um mágico torto
o sagrado foi perdido
nas noites em claro
em perpétuo labor
entre fraldas e detritos

o sino não toca
os galos não dão bom dia
e a luz vomita sobre a terra

meu codinome
é retransformado mito
no dia a dia
estão corroídas as entranhas
e os olhos arregalam
de novo

o mito nunca dorme
e gasta sapatos
assim como eu

_______________


Nota: Imagem de Ticiano - Sísifo

Você conhece alguém que sofre com o cuidado exaustivo como nesse poema acima?
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Marilice Costi é escritora, poeta, contista. Especialista em Arteterapia e Capacitada em Neuropsicologia da Arte, é graduada em Arquitetura e mestre em Arquitetura pela UFRGS. Publicações: livros e artigos. Foi editora da revista O Cuidador.
 
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