Em 1973, tempos de ditadura, as conversas eram cuidadores e as que envolviam riscos com a censura corriam como rastilho de pólvora. Era necessário estar alerta o tempo todo e se desenvolveu um cuidado intenso devido ao medo que campeava. Três pessoas juntas na rua poderia dar motivo à investigação, poderia ser grupo subversivo. Era perigoso. Eram frequentes as notícias de pessoas desaparecidas.
O professor Jorge Appel era muito atuante na Literatura e, devido à publicação do livro Palmares, a guerra dos escravos, escrito por Décio Freitas, tivera problemas com a censura, eram os assuntos que se espalhavam pela capital. O que me preocupava era a censura familiar. Minha poesia expressava as emoções femininas que formavam uma geração de mulheres na segunda metade do século XX. Foi o apoio de José Edil de Lima que me deu coragem.
Meu primeiro editor
Vibrei de alegria ao ler a carta com o pedido de agendamento para acertar detalhes de uma possível publicação pela Movimento. Meu primeiro livro! Lembro-me bem de Appel, um homem de baixa estatura, ao me receber. Lera os poemas e conversamos longamente. Appel não era só um editor, era professor de Literatura .Quis saber de mim, se eu havia estudado teoria. Como autodidata, respondi-lhe. eu estudara a teoria de Murillo Araújo, no Dicionário de Rimas da editora Científica do Rio, ARTE DO POETA.
Conversamos sobre minhas escolhas, sobre os temas, a metáfora, a versificação, as rimas, o ritmo, a melodia… como era o meu processo de criação? Por que escrevia poemas? Por que colocas ponto final no último verso? Versos livres não precisam do ponto – lembrou-me. A poesia contemporânea vinha abandonando a pontuação.
Daí que descobri que há escolhas que são dos poetas e o “meu” ponto continuou, eu apenas sentia que precisava marcar o fim. Simples. E o ponto final permaneceu.
Aquele encontro abriu meus olhos sobre o que eu aprendera sozinha e em aulas de Literatura há 15 anos atrás. Vinícius de Moraes, Dummond de Andrade entre outros, fizderam parte de minha adolescência. Sempre li muito, livros da Civilização Brasileira, da Zahar, da Editora Bels, onde trabalhei e conheci Maria Dinorah Luz do Prado, minha primeira incentivadora.
Estávamos no final de 1984 quando o livro foi ao prelo. Mulher Ponto Inicial marcou o início de minha trajetória na Literatura, fazendo parte da Coleção Poesiasul da Editora Movimento. O livro me deixou muito feliz.
_________________________
Participe com seus comentários abaixo.



















