A vida existe através da comunicação, por isso não se deve desistir de tentar. Não é difícil mudar a percepção dos mais idosos. Sorria ao vê-los, dê bom dia, puxe algum assunto, escute-os, seja gentil e abra a porta do elevador, carregue seu pacote… Com esses pequenos gestos de simpatia, delicadeza e bom humor, você poderá fazer toda a diferença.

Você já observou idosos com a cara amarrada, com o olhar parado em algum lugar distante ou reclamando de tudo? Isso é comum. O envelhecimento não é igual para todos. Até as estações influenciam no humor, pois no inverno, além dos dias serem sem cor, acinzentados, o frio enrijece as articulações tornando os movimentos e sua locomoção mais difíceis e doloridas. Também o isolamento da família e a perda dos amigos lhes causa muita tristeza. Comunicar-se é fundamental e saber notícias dos netos, ser ouvido por um filho nem que seja para reclamar da política ou se queixar de dor…

Idosos merecem respeito.

1. A Importância da Empatia

A comunicação com os idosos pode ser simples, basta ter empatia e dedicar um tempo para estar com eles. Compreenda seus sentimentos e vá além. Observe sua expressão corporal, como se veste, como se move, como organiza suas coisas. É fácil encontrar alguma coisa para lhes auxiliar.

A empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro e compreender suas experiências e sentimentos, por isso, não basta apenas ouvir — é necessário aceitar opiniões diferentes das suas e respeitar os valores construídos ao longo de décadas de vida. Cada pessoa carrega sua história e, para um idoso, essa trajetória incluiu momentos marcantes, aprendizados e desafios que moldaram sua visão de mundo e seu modo de agir.

Para estabelecermos conexão com idosos, é importante valorizar suas histórias, compreender o que desejam nos ensinar considerando o contexto aonde os seus fatos se originaram. É importante aos idosos falarem de seus sentimentos, da saudade de seus queridos, familiares e amigos, das limitações sociais devido à sua saúde. Aproveite o seu tempo e aprenda com eles. Idosos têm muito a dar.

2. A Memória nos protege

Os idosos de hoje viveram períodos de grande transformação política e social, muitos limites que você desconhece. Muitos passaram por ditaduras, guerras, revoluções culturais, sociais e econômicas que determinaram suas crenças e comportamentos.

Ouvi muitas histórias de meu pai sobre parentes presos por falarem italiano. Getúlio Vargas proibiu que se falasse línguas estrangeiras no país e Napoleão também, com o objetivo de unificar a França. A língua pátria na identidade nacional é fundamental em tudo, organiza as relações entre as pessoas em todo o território. Confira o que ocorreu na Guiana Francesa.

Quem está vivo carrega lembranças. Os idosos de hoje viveram os tempos de ditadura, viram os estudantes reagirem nas ruas, leram jornais censurados, viveram toques de recolher, ausência de liberdade e muito medo. Todos temos alguém conhecido que desapareceu ou foi morto durante a ditadura. Valorize a experiência dos idosos, eles sabem a diferença entre democracia e ditadura.

A negação não diminui o problema, apenas o esconde, demonstrando um modo de se proteger da dor.

E jogar os problemas para debaixo do tapete? Cuidado! Quando o volume for grande demais, não será mais possível esconder. Os problemas estarão mais densos e entrelaçados entre si, e a dor poderá ser insuportável. Logo, é melhor ir resolvendo os problemas sempre que acontecem. Claro, os problemas que se pode resolver e que uma terapia ajuda muito.

Jung afirmou que a solução está na direção do medo. São as nossas sombras que nos conduzem. Levantar o tapete poder assustar, mas inicialmente. Reconhecer a dor e compreender essas “sombras” nos leva a momentos de iluminação.

3. Memória e Identidade

Apagar a memória de um idoso para encaixá-lo em padrões contemporâneos é desprezar sua identidade e a riqueza de suas vivências, a sabedoria que possui.

Não nos construímos sozinhos, somos a consequência de nossos antepassados, geradores de nosso DNA. Ouvir a história pessoal dos idosos faz com que se crie novas conexões afetivas. Sua memória é o que os faz vivos e participativos, permite o aprendizado e o desenvolvimento social.

Ao conversarmos com um idoso, estamos tendo acesso a uma fonte valiosa de conhecimento único. Ao valorizarmos suas experiências, aprenderemos com suas reflexões, estimularemos sua memória. Suas histórias auxiliarão no entendimento do passado, a compreender o presente e a construir um futuro melhor.

4. Mudança de Comunicação

A comunicação entre gerações passa por adaptações. A tecnologia trouxe novas formas de interação, e os idosos podem ou não escolher aderir a elas. Muitos se sentem desconfortáveis com a velocidade da informação digital e preferem a troca presencial e direta.

Oriente-os sobre o uso do celular, respeite suas escolhas, valorize seus interesses. Explique como funcionam, ensine-os como agir e se comunicar através dos equipamentos, com paciência, e eles se sentirão mais seguros e capazes.

O mais importante é garantir que a comunicação seja inclusiva e significativa, sem exigir que abandone seus hábitos para acompanhar a tecnologia. Esse desejo é uma decisão pessoal.

5. Cotidiano do Passado

A vida cotidiana no passado era completamente diferente da atual. As tarefas domésticas exigiam mais esforço físico e envolviam processos, que hoje se encontram automatizados. As famílias produziam seus próprios alimentos, costuravam roupas e fabricavam produtos de higiene.

Em Passo Fundo, o solo é argiloso, avermelhado, não havia pavimentação na nossa rua e o resultado era um pó incontrolável. Os serviços domésticos eram muito mais extenuantes que hoje, tanto eram, que minha mãe imaginava um sistema de aspiração do pó através do rodapé. “Imagine, minha filha, se o pó fosse sugado por um vão no rodapé”. D. Alice era uma visionária! Agora temos os robôs que aspiram.

A chegada da informática modificou drasticamente o modo de agirmos. No passado, a comunicação era precária. Os produtos eram escassos e era difícil adquiri-los. Era com criatividade que as famílias davam conta das despesas. Muitas aproveitavam as sobras do dia anterior e criavam novos pratos, costuravam e reformavam roupa. Atualmente, os produtos plastificados tomaram conta do mercado e geram imensos lixões de roupas sem uso. Criou-se outro problema.

Havia livros em bibliotecas. Mapas eram de papel e guiavam as aulas de geografia e história. Não havia ventiladores ou ar-condicionadonas salas de aula. E o telefone? Havia centrais de telefonia, milhares de botões e aparelhos com manivela. A vida transcorria através do correio, as cartas!

Foram muitos os desafios dos idosos, muitas as adversidades. Eles resistiram,. Agora, as informações chegam tão rapidamente que atrapalha. Como discernir o que importa do que é desnecessário?

6. Valorização e Respeito: algumas dicas

  1. Estimule-os a contar suas histórias. Estimular a sua memória é valorizar o ser humano que ele é. Se as pessoas nunca tem tempo para ouvi-los, perdem essas informações, muitas da própria vida de quem as escuta, bens preciosos que poderão fazer falta no futuro.
  2. Respeite a sua experiência, peça que lhe ensine o que sabe: uma receita, uma música, uma história.
  3. Veja seu álbum de fotografias.
  4. Adapte a linguagem para evitar termos depreciativos, um modo de demonstrar consideração por eles.
  5. Incluía-os em seu cotidiano. O seu tempo de vida é menor que o seu. Aproveite enquanto puder.

É importante ouvir e interagir sem a companhia do celular e prestar atenção a suas conversas. Isso gera um impacto positivo. Um idoso que se sente valorizado e respeitado compartilha seu conhecimento com alegria, sente-se útil.

Idosos tem um legado de vida que poderá importar às futuras gerações.

Vivemos tempos de incerteza, de ruído intenso, de desconforto nas famílias. Tantas discussões inúteis! Aproveite ao máximo o seu conhecimento, aproprie-se da base de seus idosos, dos valores que possuem. Construa com criatividade a sua jornada a partir dali.

O importante é fazer a diferença: comunique-se com fatos e brinque com sua imaginação. Um dia esse lugar do idoso será o seu.

Idosos têm muito a nos oferecer .

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Glossário Coletivo de Enfrentamento ao Idadismo 

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Marilice Costi é escritora, poeta, contista. Especialista em Arteterapia e Capacitada em Neuropsicologia da Arte, é graduada em Arquitetura e mestre em Arquitetura pela UFRGS. Publicações: livros e artigos. Foi editora da revista O Cuidador.
 
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