O professor entrou na sala de aula e observou que os alunos estavam fora de seus lugares. Calmamente, largou o caderno de chamada e pegou o giz. No quadro foram aparecendo um a um a tabuada do nove: 9×1 = 09, 9×2 = 18, 9×3 = 27, 9×4 = 36, 9×5 = 45, 9×6 = 55, 9×7 = 63…

O professor percebeu que os alunos riam, faziam gracinhas, ironizavam, ficou parado por alguns segundos, e continuou… 9×8=72, 9×9=81, 9×10=80.

O zum-zum-zum só parou quando ele se virou para a classe.

Sentou-se e tranquilamente, fez a chamada.

– Todos copiaram? – perguntou – e um dos alunos levantou o braço. – Ok, mais dois minutos.

A seguir, pediu a atenção de todos e perguntou:

– Rir e debochar de quem errou é um comportamento comum ou raro? – e esperou, observando a surpresa qual seria a expressão no rosto dos alunos. – E então? Errei sem querer ou de propósito? O que estou querendo mostrar?

O professor foi jogando perguntas para prender a atenção dos alunos. Aguardou e retomou:

–  Erros, continuou, não são perdoados e a nossa chance para consertá-los são raras, quando possíveis… Um erro poderá ser imperdoável e inclusive custar o seu emprego, um processo judicial, a perda de um amor. Eu quis lhes mostrar como a sociedade reage aos nossos erros.

E ocorreram longos períodos de silêncio até que:

– Ninguém valorizará seus acertos e lhe dará parabéns, se houver um erro! Somos medidos pelos nossos erros. Não foi o que vocês fizeram agora comigo? Algum de vocês valorizou os meus acertos na tabuada? São nove! – respirou fundo e continuou. – E se um erro custar uma vida? Causará acidentes? Mortes? Imaginem o sofrimento de pessoas com deficiências, o quanto se esforçam para acertar…

A turma ficou calada.

O professor aguardou alguns minutos e virou-se novamente para o quadro onde escreveu “Tema de casa:” Listar 3 pessoas de sua família e 3 de suas relações sociais (usem nomes fictícios), seus erros e seus acertos. Entregar na próxima aula.

E despediu-se dando a aula por encerrada. Abriu a porta da sala e seguiu pelo corredor.

Os alunos terminaram de copiar, entreolharam-se, recolheram seus pertences e, em silêncio, dirigiram-se ao portão da escola. Alguns pararam no caminho, sentaram em um dos bancos do pátio e ficaram olhando para um ponto qualquer…  Não eram mais como antes, havia outra expressão na face.

(Adaptação de texto)

26/12/2019

Marilice Costi

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Marilice Costi é escritora, poeta, contista. Especialista em Arteterapia e Capacitada em Neuropsicologia da Arte, é graduada em Arquitetura e mestre em Arquitetura pela UFRGS. Publicações: livros e artigos. Foi editora da revista O Cuidador.
 
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