A metáfora na poesia de Marilice Costi

Aprendi poesia na escola. Era importante reconhecer o som, o ritmo, a figura de linguagem, saber de estrofes e versos, de rimas, de contagem de sílabas… um quebra-cabeça maravilhoso.

Entre esses itens, o que mais me seduz é a metáfora! É a minha cereja do bolo. Amo metáforas! Com elas, desenvolvi amplitude na linguagem. Dicionários e livros não faltaram na minha vida e, com isso, a minha capacidade linguística foi amplificada.

A metáfora no poema “Imposto de Renda”

A metáfora mais comum para o Imposto de Renda é a do “leão”. A Receita Federal utiliza essa imagem desde 1980 como símbolo da campanha publicitária para o imposto. A ideia é que o leão, um animal forte e imponente, represente a importância e o alcance do imposto na sociedade.

Compreenda mais sobre a metáfora

Imposto de Renda

Marilice Costi

você ficou de ir embora
e eu te comendo com os olhos
entre papéis de imposto de renda
e as minhas rendas

e me rendi na tua pele
em teu corpo língua corpo
em teu aperto peito aberto
ficaste, leão

No livro: Clichês domésticos, de Marilice Costi. Ed. Movimento, 1994.

Interpretando e analisando o poema

No caso do poema, Marilice Costi, faz mais uma analogia que contribui para o vínculo que se estabelece no amor, o homem é o leão que ela deseja e ela se sente uma leoa que o deseja.

O verso “e minhas rendas” contém a palavra “renda” com duplo sentido devido ao restante do poema. Se fosse apenas vinculado ao imposto de renda se entenderia como dinheiro, mas ele se enriquece ao adquirir mais de um significado.

Se descolarmos a palavra “rendas” da questão monetária, falaremos de feminilidade, de delicadeza, de sedução, de beleza, de fineza, de muitas coisas intrínsecas ao poema e podemos até ampliar para seu significado histórico.

“Rendas” também pode demonstrar empoderamento, a feminilidade como valor, a sensualidade daquela que provoca o leão, o homem que ela deseja, que se rende e desiste de sair.

A metáfora demonstra a potência do poema, exige relações mentais maiores. Reconhecê-la, aceitar o desafio da figura de linguagem desenvolve nosso sistema neuronal, enriquece a nossa capacidade de compreender o mundo, amplia nossos sentidos e compreensão da palavra. A descoberta também irá liberar sensação de prazer pela descoberta e por vencer o desafio da linguagem poética.

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Marilice Costi é escritora, poeta, contista. Especialista em Arteterapia e Capacitada em Neuropsicologia da Arte, é graduada em Arquitetura e mestre em Arquitetura pela UFRGS. Publicações: livros e artigos. Foi editora da revista O Cuidador.
 
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