Quando ganhei o Prêmio Açorianos de Literatura 2006, eu sabia que tinha escrito algo muito especial, mas não imaginava o reconhecimento.

Ressurgimento, meu livro me parecia ser o fim da linha.

Eu não tinha noção do que um prêmio faz com a gente, se o reconhecimento estimularia a continuidade de minha poesia. No mínimo, eu teria que me superar ou me sentiria mal.

Como conseguiria superar aquela linguagem que brotou em apenas dois dias? Repetiria o feito?

A persistência

Continuei escrevendo, juntando ideias, frases, comentários, fazendo poesias que nunca achava boas o suficiente. Cadê o ânimo para investir em poesia? Tanto trabalho… Mas o poeta é um ser teimoso. Mesmo que a poesia não seja tão vendida, o poeta escreve porque precisa, mesmo que o seu trabalho não tenha o mesmo caminho que outros gêneros da Literatura.

Da importância

Assim como os contos me ajudavam a registrar a dor dos outros, a poesia era para resolver a minha dor. A poesia sempre foi um modo de reduzir a minha dor, tirá-la de dentro de mim e, como se eu me olhasse no espelho, compreender os sentimentos através das metáforas. E ainda é. Mas muita coisa mudou desde os meus primeiros livros.

Se na juventude eu escrevia para “meu umbigo” (não sei como se diz isso atualmente, se souber me informe abaixo nos Comentários), com o tempo passei a olhar para mim como mulher, depois mãe, depois mãe entre outras mães, mulher entre muitas mulheres. Seres paralelos foi um dos poemas que já previa o caminho de minha poesia.

A dor pessoal se moveu para a dor coletiva, para a mulher que também sou. E assim, Clichês domésticos foi o meu segundo livro. Um tempo difícil que foi seguindo em busca de soluções enquanto filhos cresceram e a vida mudou.

Hoje, as dores coletivas me machucam, a cidade adoecida me adoece, as comunicações mudaram tanto que muitas vezes creio que estou melhor se estiver sozinha. Muitas outras vezes, em vez de querer ser a Mulher Maravilha para resolver os problemas humanos, eu quero me tornar invisível.

Invisível em livro?

Meu livro está quase pronto, mas percebo que quanto mais o releio, mais quero mudar versos, melhorar a melodia, alterar o ritmo, limpar a linguagem, determinar mais clareza e mais isso tudo me atrapalha.

Escrevo e reescrevo as estrofes e então… cadê o poema que me pareceu tão bom há anos atrás? Quem o leria hoje? Então, o meu bom senso diz: se a gaveta foi a melhor amiga do escritor, no momento atual, o lixo é um bom caminho.

Quando mais idade mais autocrítica?

Quando foi que passei mais a me preocupar com a compreensão do leitor, deixando de lado o sentimento que move? Mudando muitas vezes o sentido ao desejar clarear a ideia?

Pois é! Não é fácil ser poeta. E publicar. Os mesmos receios que tive em 1985, retornam. Não é simples largar os sentimentos. Menos ainda nos tempos atuais. A divisão do país amedronta, a falta de diálogo afasta, o desrespeito machuca, a mentira gera fome, a miséria pede verdade. E ir contra esse poderio nos esgota.

Então, perdendo aos poucos o medo de aproveitar a Inteligência Artificial, pedi que fizesse ela fizesse um resumo de meu livro. O resumo surgiu em segundos.

Inteligência Artificial

Coloco a seguir, o que a IA me enviou baseando-se em mais de cem páginas de poemas escolhidos e minuciosamente trabalhados:

Este documento poético reflete sobre tempos de sofrimento e repressão, destacando a dor e a morte, a falsidade e os conflitos sociais, culminando em uma visão distópica onde os elementos naturais consomem a verdade, deixando um vazio de possibilidades perdidas e palavras sem sentido. 

Você, meu leitor, acredita que a IA produziu sentido? Mesmo assim, a metáfora não é compreendida por ela, porque isso é dos HUMANOS.

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Marilice Costi é escritora, poeta, contista. Especialista em Arteterapia e Capacitada em Neuropsicologia da Arte, é graduada em Arquitetura e mestre em Arquitetura pela UFRGS. Publicações: livros e artigos. Foi editora da revista O Cuidador.
 
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Respostas de 4

  1. Uma poesia não é produto de clicar uma tecla em uma máquina, pois antes que um dedo da mão humana a fez, um sistema neurossensorial o programou; outro ainda tomou conhecimento, se emocionou e se alimentou. Qual ser humano não precisa de alimento? Alguns alimentos satisfazem uns, outros procuram outros. Continuamos buscando, criando. Quem dera que sigamos encontrando entre nossos pares…Imagens, poesia, cores, sons, texturas do tecido da alma.

  2. O texto da poeta, as reflexões e comentários a respeito, deixaram em mim o desejo de ler, de beber cada palavra do livro. Estou no aguardo de poder sorver cada palavra! Sou uma irremediável apreciadora de versos!

  3. Como sabemos, a inteligência humana é uma condição biológica. Resultado de tudo o que sentimos, enxergamos, ouvimos, cheiramos e tateamos. O resto serão sempre máquinas que não existem sem nossa humanidade.

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