Marilice Costi
montanha que se avoluma
a minha revelia
meu fardo
carrego sementes
sem plantá-las
carrego música
mas todos estão surdos
carrego tintas
não há papel
carrego crias
que não vivem sem mel
sem um conto de reis
sem contos
e um monte de papéis
sou rastros em longa estrada
uso gastos coturnos
em permanentes pesadelos noturnos
entre a cobra e a borboleta
há cortes e costuras
fogo e terra
outro Everest me chama!
- Quando serás colina?
carrego pedras e húmus
um mágico torto
o sagrado foi perdido
nas noites em claro
em perpétuo labor
entre fraldas e detritos
o sino não toca
os galos não dão bom dia
e a luz vomita sobre a terra
meu codinome
é retransformado mito
no dia a dia
estão corroídas as entranhas
e os olhos arregalam
de novo
o mito nunca dorme
e gasta sapatos
assim como eu
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Nota: Imagem de Ticiano - Sísifo
Você conhece alguém que sofre com o cuidado exaustivo como nesse poema acima?
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