Há famílias que cuidam de seus idosos distribuindo democraticamente as tarefas. Outras não dividem nada e deixam todo o trabalho para um deles. O idoso sofre pelo abandono e percebe o esgotamento em quem o cuida.
Sem férias nem remuneração para seu trabalho, responsável 24 horas por dia pelo idoso, sua vida se define na responsabilidade em adquirir e ministrar medicamentos, roupas e sua higiene, alimentos especiais em horas padronizadas, banho, lazer, os esforços físicos resultantes desse cuidado, a solidão e o medo do próprio futuro, o peso da responsabilidade, os compromissos que se avolumam. Há que se entender que a casa do cuidador não é mais a mesma (1), a geladeira não tem mais o seu controle, não há mais privacidade, as contas lhe assustam…
Ao sentir vontade de se livrar do cuidado, há culpa e não alívio, que se amplia quando o idoso vier a falecer. São sentimentos ambíguos que vão se instalando e fazendo mal a quem cuida. Saber que o tempo do cuidador não volta gera desânimo e tristeza, constrói seu esgotamento abrindo portas para a depressão.
Não só o cuidador contratado deve descansar e ter direitos assegurados, tais como descanso, férias… A lei determina que o contratante dê folga ao cuidador contratado após um limite máximo de horas de atendimento, ao cuidador familiar nada?
CASO 1
- Um idoso pediu ao irmão que o visitava conseguisse um asilo para ele, não queria mais atrapalhar a família. “Não podem mais me cuidar, estão cansados” – dissera-lhe. Sentia-se perdido, frágil, inseguro. Sente-se preso a quem não quer mais cuidá-lo… Acredita que exige demais.
O idoso com capacidade cognitiva preservada e perde o direito de decidir sobre sua vida deprime. Há doenças que exigem interdição. Pode acontecer será maior a sua fragilidade e é causa de sofrimento.
CASO 2
- Um cuidador contratado cuidava do idoso há muitos anos. O idoso gostava, pois era respeitosa, parceira das cartas, conversava com ele, preparava seus alimentos com carinho, era quase da família.
- Mas, certa madrugada, o familiar ouviu gritos do cuidador com o idoso, seu pai. “Pare de sair da cama, dizia, vá dormir. Se o senhor não dormir, irei-me embora.”
- O pai gostava tanto do cuidador que o atendia há muitos anos, que não comentou nada com o filho.
Marcamos para conversar. Se não desse importância ao fato, tornar-se-ia cúmplice de um crime contra o idoso.
Há quanto tempo aquele cuidador não tirava férias? Faz outros plantões? Anda cansado? Doente? É arrimo de família? É o caso de uma avaliação médica? Fazer com que perceba seu próprio cansaço e se colocar disponível para lhe ouvir e orientar, mostrar que há limite para seu comportamento.
A IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO
É urgente marcar uma reunião com os familiares. O familiar deverá lhes falar de seu esgotamento (peça um atestado de seu médico para reforçar), de seus sentimentos e do que precisa dividir para poder descansar.
Caso não consigam dialogar, um amigo, um padre ou outro familiar respeitado pelo grupo poderá auxiliar. Existem muitos sentimentos em jogo, uma trama de vidas interligadas umas às outras, uma constelação familiar.
É importante sensibilizá-los e, em último caso, um advogado ou o médico da família poderá orientar e esclarecer quanto ao Estatuto do Idoso (2) e das responsabilidades familiares.
É preciso tomar as decisões sem prejudicar o idoso e o cuidador.
DIREITOS DO CUIDADOR
O cuidador familiar só se sentirá bem se não abdicar de seus sonhos.
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REFERÊNCIAS
(1) Arquitetura OC, Tempo de Vida e Lugar. Porto Alegre: Sana Arte, ed. 5, 2009. Revista O Cuidador. Encontre neste link: http://www.sanaarte.com.br/publicacoes-revistas-internas?id=5
(2) Estatuto do Idoso ou copie em seu navegador: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.741.htm
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20 DE MARÇO é DIA DO CUIDADOR.
Dê de presente A fábula do cuidador – literatura para cuidar quem cuida. Estimule o autocuidado com literatura.
Faça o bem!
Uma resposta
Excelente. Parabéns pelas reflexões.