borboletas, canetas, papeletas
entre outras rimas com caretas
no juntar ao sótão meu porão
o não é descolado grito
colado, colagem, cotidiano pão

possuir o corpo, a alma sob pressão
controlar a válvula, a mente em convulsão
de seres que levitam no copo
tinto de olhar e doce explosão

limpar armários, gavetas, maletas
maledetas noites sem dormir
lente a revolver o todo que palpita
juntar o nada ao tudo que edita

desenquadre, voe sem moldura
que se abre em mim, colar pincel
que é cinzel rasgando a carne
esculpido amor, codificado anel

anilha de emoções, abelha e mel
profusão de assombros, devir desejos,
de partes no cumprir metas, entremeios,
os seios sem peitoris ardis

um cosmos nós e alma voz sutil
amálgama posse sem domínio algum
em termas claras, as novas águas
no estraçalhar ao recompor sentir

longo andar na mesma bissetriz
recantos decodificando encantos
no acalanto doce, um chafariz
e o abecedário ao forno que aguarda
futura vida magistral no ir?

Poema: COSTI, Marilice. A fábula do Cuidador, 2016. (rev.)

Marilice Costi

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corações
Marilice Costi é escritora, poeta, contista. Especialista em Arteterapia e Capacitada em Neuropsicologia da Arte, é graduada em Arquitetura e mestre em Arquitetura pela UFRGS. Publicações: livros e artigos. Foi editora da revista O Cuidador.
 
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Respostas de 2

  1. Excelente exercício poético de expor-se em um momento singular de nossas vidas em que tudo está em desalinho, em que o caos se instalou em todos os desvãos de nossas almas.
    Parabéns. Grande abraço.

  2. Sensível incrível dócil leitura neste poema que só Marilice mesmo para nos fazer rever antever vasculhar e encontrar sentido no cotidiano ir e vir. Amei, continue a publicar.

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