A COLUNA
Que toda a gente saiba de quem é.
Não faças dela a cinza duma chama
nem planta nua dum pé
abrindo covas na lama.
Levanta a fronte, levanta!
Não faças dela espelho a descoberto
onde o quebrado corpo se despoja,
nem chão intérmino e deserto
em que a dor se roja.
Levanta a fronte, levanta!
Para que essas sombras que te inundam,
sombras roxas e lôbregas de becos?
Para que essas rugas que se afundam
como leitos de rios secos?
Levanta a fronte, levanta!
Foi a cela que te anoiteceu
com charcos de medo e gelo?
Quem trouxe um sonho como o teu,
jamais deve perdê-lo.
Levanta a fronte, levanta!
Quem ergue a fronte, levanta a voz,
levanta o sonho num facho a arder
Ele é maior que tu e todos nós
– um mundo por nascer!
LUIS VEIGA LEITÃO – Poeta português, nasceu em Moimenta da Beira, Portugal (1912). Resistente político, pacifista e humanista. Durante a Guerra Colonial do regime fascista de Salazar, para impedir que o filho Luis António, arquiteto e medalheiro premiado, fosse recrutado, morou dez anos em Niterói (RJ) com a família. Com a esposa, Maria Sofia Mendonça Monteiro, participou de movimentos pela paz. Retornou ao Brasil em 1987 e faleceu na noite anterior à primeira palestra de um ciclo que ocorreria em universidades. Espécie de ser utópico, como se considerava, buscava na essência da palavra, o seu sentido originário para reinventá-la.
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