O desrespeito com pessoas com deficiências, agressividade e bullying, abuso sexual, ironias, tudo que pode desvalorizar alguém me deixa muito incomodada. Minhas memórias de mãe são acessadas e me ponho em alerta, quero proteger.

Notícias de abuso com pessoas vulneráveis causam em mim uma enorme sensação de impotência e revolta. Digo sensação, pois quando fazemos o possível, estamos fazendo o nosso melhor naquele momento e não cabe culpar-se. No entanto, podemos dizer uma palavra de conforto, dar um abraço ou apenas escutar. As escolas revelam uma família através de um aluno. Agressividade, desrespeito, enfrentamento podem ser sintomas desadaptativos ou demonstrarem problemas cognitivos, neurológicos, neurossensoriais, emocionais, orgânicos, psicológicos que se refletem em baixa autoestima, autolesão, ansiedade e depressão. Entre os itens relatados pela OPAS, o terceiro maior índice é o suicídio.

Problemas mentais nas escolas

Famílias carregam marcas particulares, medos, fragilidades, agressividades e inseguranças. Trazem isso no DNA, no inconsciente coletivo. A necessidade é cada vez maior de proteger os filhos. Na infância, parece mais simples, mas os pequenos crescem, vão para o mundo, e?

Mães atípicas também clamam por cuidados aos filhos. Em exaustão, cobram das escolas, dos órgãos públicos, judicialmente, que se cumpra a lei de assistência em escolas. Os pais atípicos são raros, pois abandonam a família e se afastam dos filhos. Os homens não se sentem capazes o suficiente para lidar com as escolas, até porque, se são provedores, não faltarão ao trabalho para isso. Os que se afastam da vida familiar, também tem dificuldades com o afeto, não sabem como mostrar afeto e nunca tem tempo para os filhos, proteção e cuidado. Se nunca tiveram de seus pais, como fazerem?

Atucanados entre o trabalho e a família, as mudanças violentas e rápidas no mundo, o excesso de informações em celulares, não dão conta da necessidade do filho. Também precisam ser acolhidos, pois carregam sentimentos e emoções mal resolvidas, agem como se fossem adolescentes, quando o necessário é ser uma referência saudável e o porto seguro para os filhos.

Os riscos

Adolescentes vivem períodos complexos. Essa fase delicada, de oscilação nos hormônios, mudanças de comportamento, desejo de liberdade plena e sem responsabilidades, supervalorização dos relacionamentos sociais, necessidade de afirmação e individuação, geram momentos de risco para a drogadição, o crime, as doenças mentais, o desequilíbrio e muito mais. São tempos também difíceis para seus progenitores. A educação que anteriormente ocorria no grupo familiar, atualmente ocorre quando o resultado negativo aparece na escola. É então que se percebe o quanto os pais precisaram de auxílio e não a tiveram. Os problemas são geracionais, dependem das classes sociais, de questões econômicas, de escolaridade, de renda, de moradia e território, de muito mais.

Agregue-se a isso, as redes socias que podem baixar a autoestima a tal ponto que colocam a saúde mental dos adolescentes em alto risco, desviando-os de seus talentos e competências, vida social acolhedora e relacionamentos qualitativos.

Prejudicados pela falta de afeto e de diálogo, os adolescentes se sentem desamparados e reagem com as condições que têm. As escolas não têm conseguido tratar bem dessas questões, esbarram em falta de professores, baixa capacitação para lidar com conflitos, além da inserção de alunos com deficiências que exigem um novo movimento escolar e atividades agregadoras que misturam grupos diversos em uma mesma sala.

A Escola e seu papel acolhedor

No XV Congresso Brasileiro de Arteterapia, assisti a uma Mesa sobre Educação e Arteterapia. Os trabalhos apresentados pelas colegas foram brilhantes. Abrem-se novos caminhos de atuação nas escolas, integrando-se à equipe multidisciplinar. Com um público adolescente, reconstroem afetividades e acolhem esses jovens em um período conturbado.

A Arteterapia demonstrou resultados excelentes e deu suporte aos alunos, que puideram expressar suas dores e organizar seus sentimentos, aproximando-se dos pais e recebendo a segurança de arteterapeutas para mudarem assertivamente as suas rotas. O uso de recursos criativos e suporte arteterapêutico os auxiliaram a dar a devida importância aos celulares, integrarem-se a grupo e reconhecerem suas necessidades e dificuldades. Potenciais adormecidos foram descobertos. A Arteterapia trouxe saúde mental aos alunos ao lhes possibilitar que emoções e sentimentos fossem expressos em um ambiente de cuidados, acolhimento, contenção, criatividade, pertença e afeto através de convício sadio com seus pares. A Escola então pode cumprir o seu papel.

Nota: Outro dado importante é que, através desse trabalho, problemas mais sérios de saúde mental tais como: gravidez precoce, autoagressão e transtornos mentais puderam ser diagnosticados adequadamente e tratados através da rede SUS.

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A questão da inclusão ainda me causa dúvidas – isso comentarei em outro post. Encontrará algumas situações que vivenciei com meu filho com deficiências em escolas públicas em Porto Alegre neste livro. CLIQUE AQUI. Quem desejar adquirir este livro, TIRE SUAS DÚVIDAS NO CONTATO aqui.

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Marilice Costi é escritora, poeta, contista. Especialista em Arteterapia e Capacitada em Neuropsicologia da Arte, é graduada em Arquitetura e mestre em Arquitetura pela UFRGS. Publicações: livros e artigos. Foi editora da revista O Cuidador.
 
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