Do esvoaçar da língua
Selecionado no 4º Prêmio Internacional Pena de Ouro 2023
neste roldão que os acompanha nutriz é a palavra afundada imagem em degredo e segregada encolhida vertigem neste andar de costas ao que poderia ser o vento comum o parto é em sobras o afundamento é entre linhas que descortinam as amarras invisíveis de língua cortada, de ouvidos mesmo assim em tão doces histórias infantis entre contos e poemas que guardam um todo o olho encostado ao chão é encascalhado sentir escorregando entre dentes à espera, unhas tom avermelhado desejo de dialética análise que se prostitui na contagem de caracteres das bordas de cada um - é elefante que estica a trompa e não alcança o afago da tropa - o cuidado escondido da memória incólume ação fio dental esquecido dormente carpim preto tão padrão que olha o beijo no portão e pedido que se faça menos sofridos os adeuses o desejo é voltar para romper auroras nunca a esmo empreender caminhos jogados em sílabas de fonética costurada (são) pelos de gato nas narinas esgarçar de bicos de aves em migração a saudade inteira entre as penas encasqueta nimbos contém raios, furacão caixas contêm orações, tantas vozes de tantos dias contidas e em uníssono o não chegar ao som de entradas a idade a ensinar contenção no lastimável defluxo das salivas na umidade entre abraços o amor feito lua, hera e pergaminho está escrito ali na luz sempre enquadrada o recorte do dia, o pouco imerso na questão - o muito - o lugar é um lenço úmido ausência de músculos plenos para o encaixe almas e composição pauta risca a harmonia em dissonante dó ré mi mesmo maiores os tons são sons adocicados perdido maestro maior, comandante ao solfejar mínimas as breves arriscam alongam melodia que não encerra compassos porque comuns andorinhas gritam pelo corpo sabiás em melodia vã árvores se abrem ao mar lançam anzóis buscam colo e lenimento o fundo do olhar é contra o tempo que respinga em ondas, tantas areias, ternuras espuma plena de mãos desenlutadas dor é cosmos de ausência mar em ressaca aquário em movimento de algas e cardumes corais opacos a buscarem arco-íris o amar em manicômios a passagem sob vergas rebaixadas a meio vão as curvas, as parábolas sentimento de hipérboles, a pequena janela sem controle ao contato uníssono infinito sol a nota, tantas notas ao ponto, por onde a vida flui marola, maremoto, turbilhonamento no perdurar amor jamais envelhecido entre papéis e letras amontoadas sem saber como compor carinhos, tantos. ©MariliceCosti, 2012.